Foto: SECOM/VG

 

“Eu nunca imaginei isso pra mim. Nunca mesmo. Eu era medrosa no volante, não dirigia carro, só moto. Mas quando a chance bateu, eu abracei”, conta, emocionada

 

Aos 46 anos, a servidora pública de Várzea Grande, Shirley Souza, prova que coragem, determinação e identidade caminham juntas. Mulher, negra, mãe e trabalhadora, ela descobriu que a força que sempre carregou podia florescer justamente de onde antes existia medo.

Depois de nove anos atuando na Secretaria Municipal de Viação e Obras, foi na Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Mobilidade Urbana — e na gestão da prefeita Flávia Moretti (PL) — que Shirley encontrou a oportunidade que mudaria completamente o rumo da sua vida.

A mulher que antes tinha medo de dirigir hoje conduz com firmeza um equipamento essencial para o cuidado da cidade. “Não é para qualquer um. A máquina faz uma diferença enorme na limpeza pública. E eu gosto disso. Gosto de trabalhar, gosto de fazer bem feito”, afirma.

“Eu nunca imaginei isso pra mim. Nunca mesmo. Eu era medrosa no volante, não dirigia carro, só moto. Mas quando a chance bateu, eu abracei”, conta, emocionada.

Com apenas dois meses no serviço público, Shirley vive agora um dos capítulos mais marcantes da sua história. O chamado inesperado do assessor José Carlos, responsável pela área operacional da limpeza, foi a virada de chave. “Quando ele me chamou, achei que era para me mandar embora”, brinca. “Mas ele disse que estava pensando em mim para operar a máquina. Eu respondi: com força de vontade, a gente vai longe.”

Uma mudança que veio “da água para o vinho”. O treinamento com o fabricante da GiroZero — equipamento utilizado na higienização e manutenção de banheiros químicos e espaços públicos — revelou o que Shirley nem sabia que tinha habilidade natural para operar a máquina. E o assessor e coordenador da área de limpeza, conhecido pelo ritmo acelerado, não deixou espaço para dúvidas: “Ele já mandou colocar a máquina no caminhão e disse: vai trabalhar”, lembra, rindo.

No dia seguinte, Shirley já estava no campo, segura e confiante. “Perguntaram se eu dava conta. Eu falei: meu nome é pronto.”

PROTAGONISMO FEMININO E REPRESENTATIVIDADE NEGRA - No mês da Consciência Negra, a história de Shirley ganha ainda mais significado. Não é apenas sobre operar uma máquina — é sobre ocupar um espaço historicamente negado. É sobre quebrar barreiras, superar medos e reafirmar que mulheres negras são — e sempre foram — capazes de transformar realidades.

Para Ana Paula, coordenadora da Subprefeitura do Cristo Rei, o exemplo de Shirley vai muito além da representatividade. “O poder feminino não fere ninguém. Ele abre portas, inspira e mostra que competência não tem gênero, cor ou condição social. Shirley é prova viva disso”, afirma.

A gestão da prefeita Flávia Moretti, mulher, mãe e defensora da valorização profissional, tem sido fundamental para que histórias como essa aconteçam. “A gestão passada deixou marcas duras, muita gente se sentiu massacrada. Hoje, ver uma mulher negra, mãe e trabalhadora assumir a operação de uma máquina é o reflexo de um novo tempo”, reforça Ana Paula.

Shirley não esconde o orgulho da própria trajetória. “Muito feliz, muito mesmo. É uma chance que eu nunca pensei que teria.”

No Dia da Consciência Negra – hoje, 20 de novembro -, sua história ecoa com força: é sobre resistência, oportunidade, dignidade e afirmação.

Entre emoção, superação e a força que sempre teve, Shirley resume essa nova fase da vida com a simplicidade de quem sabe o valor do próprio caminho: “Basta querer. A gente consegue.”